segunda-feira, 17 de junho de 2024

A verdade na saúde

 

o tema do artigo para a edição de junho na Revista Progredir foi "A verdade na saúde". 

Um tema que tive particular prazer em escrever pelo facto de que a verdade é a realidade que todos precisamos de (re)aprender a aceitar para enfrentar qualquer que seja o desafio ou obstáculo relativamente á saúde. 

Por norma o primeiro impacto é a incredulidade, depois a negação e só mais tarde a aceitação e tanto faz que seja uma doença ligeira, crónica ou de longa duração. 

Ninguém gosta de estar doente, ninguém está preparado para se sentir incapacitado por qualquer que seja a doença, e por essa razão, muitos sintomas indesejados  são arrastados por demasiado tempo.

Um artigo que aborda um tema que diz respeito ao bem-estar de todas as pessoas e que vale a pena ler na íntegra aqui

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Crónica Positive Spirit #01 - Investe tempo para reabilitar a tua saúde mental


 Nunca antes se falou tanto de saúde mental sob várias perspectivas da vida quotidiana e, ainda bem!

Sempre existiu necessidade de bem-estar a todos os níveis, mas o foco estava sempre no que falha, no que está mal, sobretudo a nível físico, com uma ou outra nuance desvalorizadora, acerca do desconforto emocional e psicológico, tido como "coisas" passageiras, do sistema nervoso e até mesmo da histeria, em tempos não tão longínquos do séc. XX.

Apostou-se muito na aquisição de bens materiais para suprimir esse desconforto, na tentativa de se distrair a mente e nesse sentido, tem valido o consumo excessivo de tudo o que está disponível - bens de consumo rápido -, comida, dispositivos eletrónicos, viagens, roupa, acessórios e produtos de beleza, redes sociais, canais streaming, suplementos, ginásios, carreiras profissionais e muito mais. 
Hoje existe muito de tudo e consumimos muitíssimo mais do que realmente necessitamos para viver bem, confortáveis e equilibradamente.

Na ânsia de apaziguar um vazio implacável que mais tarde ou mais cedo todos nós, inevitavelmente iremos sentir. Quando esse mal-estar aparece, a primeira conclusão a que chegamos é que temos tudo na vida para sermos felizes mas nada nos satisfaz. Um vazio cujas palavras dificilmente encontramos para o definir e por isso andamos demasiado tempo a lutar contra esse desconforto. 

Demonstram as estatísticas que as mulheres são as mais afetadas pelas perturbações e/ou desiquilíbrios emocionais e psicológicos que defraudam a sua saúde não só mental como física. Porque são as mais sobrecarregadas com as múltiplas tarefas diárias e também pelo seu espírito naturalmente cuidador. Entenda-se esta afirmação não por defeito mas por natural virtude.

Na tentativa genuína de "ajudar" os amigos dizem:
- Deixa lá isso, vai mas é beber uns copos e divertir-te, vais ver que passa! Outros dirão, faz mediação, faz yoga, faz mindfulness, faz ginásio ou faz caminhadas. Faz, faz e faz!
Os familiares dizem - Mas afinal do que é que tu te queixas? Tens tudo!  Uma família fantástica, dinheiro, uma casa, trabalho, sucesso, carro, viagens, amigos. Onde raio foste buscar isso agora!

Os teus sintomas são amplamente desvalorizados. Tens a sensação que ninguém te compreende, e também é difícil para ti explicares por palavras o que estás a sentir, o que ainda provoca mais raiva nas outras pessoas, que começam a comentar nas tuas costas que te tornaste numa pessoa caprichosa, queixosa, ingrata, insatisfeita, talvez até um pouco arrogante e no final, uma chata, que só fala do mesmo assunto e que já ninguém aguenta as tua lamúrias, começando a evitarem-te.

Quem olha para ti, vê uma coisa, mas a pessoa dentro de ti vê e sente outra coisa completamente diferente, e é então que mergulhas numa tristeza sem fim, não consegues ver a luz ao fundo túnel para voltares a sentir-te bem contigo mesma e com a tua vida que todos acham maravilhosa e que dariam tudo para a ter.

As manhãs começam a ser um tormento para saíres da cama e enfrentar mais um dia. Os dias parecem mais longos e o tempo não passa. O trabalho pelo qual tanto lutaste e o sucesso que alcançaste parecem não fazer mais sentido, já não te preenchem. Começas a ficar irritada com tudo e com todos e baixas os teus níveis de produtividade. Quando finalmente o dia de trabalho termina e regressas para casa no teu maravilhoso carro que adquiriste com tanto sacrifício e do qual te orgulhavas tanto, já não é capaz de te proporcionar o conforto e o prazer de conduzir, irritada começas a barafustar com o trânsito enquanto gesticulas para os outros condutores, chamando-lhes incompetentes, e outros nomes.

Finalmente chegas a casa exausta, enfrentas as necessidades da família, calando as tuas próprias, tentas fazer tudo o mais rapidamente possível tentando que sobre algum tempo para ti, mas isso nunca acontece. Parece que fazem de propósito, os filhos descobrem todos os dias motivos diferentes para fazer mais uma birra, choram, gritam, exigem tudo e mais alguma coisa e tu, dás mais um pouco de ti, até aquilo que já não tens.

O marido, porque hoje em dia parece mal não "ajudar", lá tenta fazer uma coisa ou outra para te aliviar dessa sobrecarga, mas pouco, porque na verdade, tu também te irritas por ele não saber fazer nada de jeito. Qualquer coisa que ele faça nunca nada está do teu jeito, do mesmo jeito que só tu sabes fazer. Então vais lá e fazes mais um pouco, até porque não és mãe dele para perderes tempo a ensiná-lo. Ele, desiste, claro! Só para evitar mais uma discussão por tão pouco ou por nada que valha realmente a pena enervar-se.


E a noite? Ai quando chega a hora de ir para a cama….

O marido espera-te já deitado, a fazer scroll no telemóvel aguardando o momento para dar e receber carinho, afeto e sexo, no final, calhando ainda quer conversar, só para te contar como teve um dia difícil na competição com o colega ou com o chefe que tu nem sequer conheces para depois cair para o lado e adormecer que nem um bebé satisfeito.

Pelo canto do olho tu percebes porque já conheces todos os gestos, então demoras um pouco mais, aproveitas para colocar roupa na máquina, depois segues para a casa de banho e retiras a maquilhagem lentamente, tomas um duche mais demorado do que o necessário, tudo só para ver se o "gajo", adormece e não te pede nem atenção nem sexo. Dentro de ti, uma voz grita - Caramba! Mas ninguém vê como eu estou! Ninguém percebe como eu me sinto! Finalmente, nesse pouco tempo que tens para ti, consegues libertar umas quantas lágrimas debaixo do chuveiro que se misturam com a água, sem que ninguém veja e também porque não queres que alguém perceba que choras nas solidão dos teus dias, das tuas noites, da tua vida.

Vais para a cama, ele cansou-se de esperar, virou-se para o lado e adormeceu. Então começas uma nova luta, desta vez entre a exaustão e o sono que decide não ceder, porque a tua cabeça está cheia de ruído. Fazes um pouco de scroll no teu telemóvel para ver se alguma coisa te distrai até o sono chegar, mas entretanto entras noutra luta entre o facto de saberes que isso excita ainda mais o cérebro e a possibilidade de fazeres uma leitura para te acalmar, só que não podes ligar a luz para evitar de incomodar o dromedário que ronca ao teu lado num sono profundo, enquanto a tua mente continua a fabricar pensamentos. Mas como é que ele consegue desligar-se de tudo e dormir tão profundamente, como se não existissem problemas! É só parvo, pensas tu, e começas a nutrir por ele uma irritação sem precedentes para depois iniciares mais uma nova luta e aquela voz recomeça a narrativa:

- Estou a ser injusta. Ele é um excelente marido, trabalha imenso e é um pai exemplar. O que é eu estou a fazer comigo e com a minha vida. Claro que a culpa é minha, só pode ser.

Os diálogos começam a alucinar a tua mente e já são duas da manhã, o sono não aparece. resolves levantar-te e vais para o sofá. Ligas a netflix para te distraíres e mandas abaixo uma série de doze episódios. Entretanto são seis da manhã, e lá vais tu, com uma noite em claro, começar o teu dia de novo, numa repetição automática. Cada vez mais irritada, mais zangada, cada vez mais triste e vazia.

Um dia já não aguentas mais, decides que queres outra vida e começas a colocar ordem em tudo, ou melhor, a desistir de tudo. Queres deixar o emprego, o casamento, os filhos, a casa e o carro. O dinheiro não, porque precisas dele para arranjares uma casa suficientemente isolada numa aldeia qualquer no interior do país onde não cheguem nem a televisão por cabo nem a internete porque só queres paz e sossego. Uma casita pequena, com um pequeno jardim, um gato por companhia e uma pequena horta para produzires os teus próprios alimentos biológicos. Este é o cenário ideal para saíres e romperes com tudo o que te faz mal e que achas agora que é tóxico. Dás conta que entretanto já tens quarenta anos e pensas, como é que não tive esta ideia quando tinha vinte anos ou logo que acabei a faculdade, teria sido tão mais feliz - dizes em voz alta para te puderes ouvir, quase eufórica e ao mesmo tempo trinte, infeliz a afundar nesse vazio cada vez mais profundo. Só queres desaparecer, mais nada.

- Mas estás maluca? Endoideceste? Mas quem é te anda a dar volta á cabeça? Só pode ser uma crise de meia idade ou talvez uma menopausa precoce. É o que dizem os outros á tua volta, sem nunca te verem, realmente. Porque nunca te deste a conhecer de verdade. Também não saberias mostrar outra pessoa porque nem tu mesma sabias que poderias ser outra pessoa que não aquela em quem estavas habituada a mandar fazer isto ou aquilo, ir para ali ou para qualquer outro lado. Tu estiveste sempre tão certa de ti mesma, e agora isto!

Lá no fundo de ti, no ponto mais profundo de honestidade própria, sabes que precisas de ajuda. Ainda não consegues descodificar que tipo de ajuda e para onde te virares. Pensas em tudo e mais alguma coisa. Mudar o estilo de vida, fazer uma alimentação mais equilibrada, incluir mais exercício físico, voltar a estar tempo com amigos, fazer sexo mais assiduamente, mais tempo de qualidade com os filhos e ser mais paciente com o marido promovendo mais tempo só para os dois. No fundo, ficar mais próxima de tudo e de todos novamente. Pronto, é isto! Só preciso de ser mais disciplinada.

Nessa tentativa, esqueces o sonho anterior de mudar de vida, de lugar, de casa, de trabalho, de pessoas, de ambiente. Adorarias poder fazê-lo mas tens de pensar em primeiro lugar no que essa mudança representaria para tua família. Primeiro tens de pensar neles, colocá-los á frente de tudo em especial de ti e das tuas necessidades. Claro que um sonho é só isso mesmo, um sonho! Era bom era, mas claro que não depende só de ti, e aí, o teu sonho, começa a perder a força até que se dissipa, extingue-se, desaparece e nunca mais te lembras dele.

Entretanto dás conta que já desististe de tantos outros sonhos ao longo do teu tempo de vida. Uns maiores outros mais pequenos; uns mais fazíveis no imediato outros que poderiam requerer mais planeamento. Não interessa, sonhos são sonhos e todos são possíveis. Cada sonho é um desejo de ser e de fazer acontecer algo com alegria. Quando os sonhos deixam de ser sonhados, puf! Simplesmente desaparecem e com eles também se vai a possibilidade de concretização e a alegria. Se a possibilidade de concretizar um sonho desaparece, deixa um lugar vazio e a alegria abre espaço para a tristeza.

É isto! dizes para ti própria em voz alta! È isto! É isto mesmo! Deixei de sonhar, deixei de fazer acontecer os meus sonhos. Porque deixei de sonhar, deixei-me levar pela corrente dos acontecimentos, sem incluir os meus sonhos nesse caminho. Passei a viver para fora e deixar-me engolir pelos sucessivos "sucessos". Será que são mesmo sucessos? Perguntas para dentro de ti. Aquela voz que antes te gritava de dor, ainda lá está e ainda grita, mas agora com menos dor e com mais consciência.

Esta reflexão começa a deixar-te confusa, não sabes por onde começar, nem se há mesmo alguma coisa a começar. Talvez só existam coisas para arrumar, organizar, colocar em patamares diferenciados mas sem excluir nada nem ninguém, nem mesmo tu. Sobretudo, não te excluíres, outra vez.

É mesmo melhor buscar ajuda, alguém com quem possas conversar abertamente. Quem não te desvalorize nem desvalorize os teus sonhos, os teus sentimentos. Alguém com quem possas refletir em conjunto. Alguém com quem possas dar gargalhadas genuínas mesmo que sejam por coisas parvas e sem sentido. Alguém que te acolha, na qual possas confiar e te dê espaço para descansares. Alguém que te olhe nos olhos e te abrace com um sorriso.

Então pensas e falas alto nas seguintes possibilidades:
- Vou a um psiquiatra. Não. Esses só receitam remédios para ficarmos tipo zombie.
- Talvez um padre. Não. Eu nem tenho religião, não acredito em nada e iria falar-me de histórias bíblicas cuja moral nunca sei onde encaixar.
- Quem sabe um guru espiritual. Não. Falam de coisas esquisitas como espíritos, vidas passadas. Já tenho insónias que bastem e nem consigo entender-me com esta vida, imagina se acrescentar mais vidas, ainda por cima passadas. Quem se vai passar sou eu.

Hum… pensas mais um pouco, cruzando os braços sobre o peito, enquanto olhas pela janela o movimento apressado das pessoas a andarem pelos passeios; as buzinas dos carros que não arrancam logo ao sinal verde do semáforo o que impacienta muito os condutores; a sinalética ensurdecedora das ambulâncias em marcha de urgência. Dás conta do caos lá fora que contrasta com a ligeira pacificação que estás a sentir enquanto paraste por uns instantes sem um objetivo definido. Percebes que existes. Que respiras. Que isso te faz sentir um pouco melhor. Parar, só para existir  e respirar.

Esta pequena pausa deu-te a oportunidade de ficares em contato contigo mesma. Acolher alguma parte de ti que estava esquecida algures no tempo - tu mesma!

Claro que és importante. Claro que tens valor. Claro que és capaz e eficiente. Claro que és um ser humano e, esquece lá essas frases feitas de que és um ser espiritual a viver uma experiência terrena. És um ser humano e pronto! Isso já é suficiente para te dar trabalho para o resto da tua vida. Só tu podes cuidar da tua vida. A tua vida é responsabilidade tua e de mais ninguém. 

Depois deste "eureka" pensas, mas também sou responsável pela vida dos meus filhos. Espera só até eles acharem que já são suficientemente adultos e começarem a rir-se das tuas ideias, das tuas opiniões e até da tua experiência de vida. Aí vais perceber que eles não são teus filhos, são só as tuas crias. Crias estão criadas e ponto final. Já lhes deste a vida, já os amamentaste, já os orientaste para a vida. Trabalhaste que nem uma moura para que fossem pessoas decentes, agora chega. Deixa-os voar! Diz o pai, os familiares e os amigos. E sabes que mais, têm toda a razão. A mensagem subliminar que essa gente toda te está a ditar é: Já fizeste o suficiente. Eles estão criados (são crias), agora cuida de ti. 

Não há desculpas, tu percebes isso melhor do que ninguém, porque a angústia é tua; a culpa é tua; a raiva é tua; a irritação é tua, a tristeza é tua, a exaustão é tua; todos os secessos são teus; todas as conquistas são tuas; toda a trabalheira que tiveste ao longo da vida foi feita por ti e só por ti; a alegria é igualmente tua mas tristeza também. E o vazio. Ah aquele doloroso vazio! É claro que também é só teu!

Nada nem ninguém te pode substituir na tua vida. Ninguém poderá viver a tua vida por ti. Portanto, todo esse património físico, material e imaterial, emocional e psicológico, mental e espiritual, também é todo só teu.

Só te cabe a ti mesma, cuidares de ti. Cuidares das tuas necessidades. Seres quem tu idealizas ser e sem mimimis. Ousa ser o que quiseres ser. Faz acontecer o que achas certo e realiza todos os teus sonhos, mas todos mesmo, até aqueles que achas que são parvos, porque são teus, só teus. 

Não nasceste para sofrer, aliás o sofrimento nem sequer existe, porque tu não és aquilo que te acontece ou que te aconteceu. Tu és apenas e só aquilo que tu fazes em todos os momentos, todas as tuas reações aos acontecimentos são o resultado da tua experiência de vida curta, média, longa ou muito longa.

Novamente, para por uns instantes sem qualquer objetivo definido e fica apenas a existir e a respirar. Demora-te até o sonho te acordar para o momento presente.
Neste reencontro contigo mesma, percebes o quanto a tua vida é preciosa para a deixares passar em vão.

Tomas a decisão de procurar a ajuda que há muito percebeste que precisavas e nessa busca é a vida que te surpreende quando te apresenta a pessoa certa, aquela que te acolhe com respeito e te abraça com um sorriso sincero. Sabes que este é o teu porto seguro. Sabes que aqui podes ficar por confiar e também sabes, que independentemente do tempo que durar essa viagem, irão viver em conjunto momentos de profunda cumplicidade, companheirismo, sonoras gargalhadas, lágrimas sentidas, mãos que se unem por encorajamento nos momentos mais turbulentos e colo, se também for necessário. Ombros, existem dois, um para te amparar outro para descansares.

Pensas: - Já sei! Vou procurar um psicólogo, ou uma psicóloga? O que é que isso interessa se és tu quem decide. Tu já sabes o que procuras, o que precisas e o que queres para ti e para a tua preciosa vida.

Uma coisa é real, seja qual for a tua escolha ela é perfeita até te fazer sentido. Quando deixar de ser confortável, deixou de ser necessário ficares aí. Procura outro lugar, ou não. Não corres mais riscos, porque já sabes investir tempo na reabilitação da tua saúde mental e assim terás sempre para onde voltar.